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Docente e estudante do Cefet/RJ participam de intercâmbio no Peru sobre educação antirracista

Publicado: Terça, 16 de Setembro de 2025, 17h14 | Última atualização em Terça, 16 de Setembro de 2025, 17h33 | Acessos: 404


Comitiva do Programa Caminhos Amefricanos na embaixada brasileira, no Peru. Foto: Maíta Alves

Cinquenta professores da educação básica pública de todo o Brasil autodeclarados pretos, pardos ou quilombolas foram selecionados para participar do intercâmbio Caminhos Amefricanos – edição Peru. O Cefet/RJ foi representado por dois participantes que contribuíram com suas experiências para fortalecer uma educação antirracista, decolonial e internacionalista. Os roteiros turísticos afrocentrados permitiram que eles conhecessem de perto histórias e memórias muitas vezes silenciadas, ao mesmo tempo em que observaram a riqueza cultural do país.

O programa, realizado de 24 de agosto a 7 de setembro, foi uma parceria com o Ministério da Igualdade Racial (MIR), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a Universidad Nacional Mayor de San Marcos, com sede em Lima. Participaram da viagem e das atividades Azenclever Santos, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Relações Étnico-Raciais (PPRER) do Cefet/RJ e docente do Instituto Federal do Pará (IFPA) campus Óbidos, e Mariana Brito, docente da Coordenação de Geografia do Cefet/RJ e membra do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) da Unidade Maracanã.

Os docentes intercambistas participaram de seminários, palestras e rodas de conversa na Universidad Nacional Mayor de San Marcos, a mais antiga das Américas. As discussões giraram em torno de temas como relações étnico-raciais, descolonização do currículo, cooperação Sul-Sul e políticas públicas para populações negras. Realizaram também visitas técnicas a escolas públicas de educação infantil e educação de jovens e adultos (EJA), além de encontros com parlamentares, intelectuais e ativistas afro-peruanos. Por fim, visitaram museus históricos e sítios arqueológicos como Pachacamac, permitindo-se conectar diretamente à ancestralidade pré-colonial do continente.

Para Ezenclever, o momento mais marcante foi a roda de apresentação no Instituto Guimarães Rosa, onde cada professor pôde falar de sua trajetória e de sua luta pessoal contra o racismo. Também destacou o bate-volta a Cusco e Machu Picchu: “Caminhar por aquelas montanhas foi como abrir um livro vivo de história”, declarou. Mariana Brito destacou a rodada de palestras sobre a invisibilidade dos afro-peruanos. “Tive a oportunidade de trocar vivências e construir uma rede de contatos e saberes com colegas brasileiros e peruanos. Pude me inspirar nos trabalhos antirracistas e de gestão de outros NEABIs, que, mesmo enfrentando a falta de apoio institucional, seguem firmes e resilientes graças à dedicação de seus coordenadores e ao compromisso de seus aliados”, ressaltou a docente.


Representando o Cefet/RJ, os docentes Mariana Brito e Azenclever Santos

Ampliação e valorização do currículo por meio da cultura afro

O Programa Caminhos Amefricanos está alinhado à Lei nº 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana nas instituições educacionais. Também está em consonância com a Lei nº 11.645/08, por valorizar práticas educativas que combatam o racismo e promovam a igualdade racial. No entanto, o debate sobre a inclusão e a valorização desse grupo ainda parece recente no Peru, especialmente se comparado ao Brasil. “No Brasil, o movimento negro foi mais forte, pressionando e sugerindo políticas públicas, como as cotas raciais e a obrigatoriedade de incluir temáticas afro-brasileiras no currículo. No Peru, o movimento negro parece menor e mais disperso, até por conta da população afro-peruana que é estimada entre 3% e 10% do total da população. Isso dificulta o avanço de leis que favoreçam essa comunidade”, declarou Brito. Os peruanos, entretanto, “demonstram grande interesse em trocar experiências com o Brasil, por meio de pesquisas na área e de palestras ministradas por pesquisadores brasileiros”, completa Azenclever.


Equipe reunida no auditório da Universidad Mayor de San Marcos após um dia de seminário

Multiplicadores de uma educação antirracista

Azenclever, mestrando no Cefet/RJ que desenvolve pesquisa sobre as identidades quilombolas amazônicas, pôde ampliar sua visão sobre uma educação que dialogue com o contexto latino-americano e africano. “Essa experiência me tocou profundamente. Volto ao Brasil mais comprometido do que nunca com uma educação que acolhe, valoriza e transforma. Essa vivência me deu repertório teórico, afetivo e político para seguir desenvolvendo projetos de letramento racial, valorização das culturas negras e práticas pedagógicas anticoloniais. Agora tenho mais ferramentas e conexões para promover ações conjuntas com colegas, estudantes e comunidades periféricas e tradicionais. O Cefet/RJ tem me proporcionado não apenas formação teórica dentro do PPRER, mas também reflexões profundas, vivências coletivas e engajamento em projetos voltados à justiça social, à valorização das epistemologias negras e às práticas pedagógicas inclusivas. O intercâmbio no Peru foi, sem dúvida, um prolongamento dessa formação crítica que o PPRER me proporciona”, complementa Alves.

Mariana, por sua vez, acredita que o Programa Caminhos Amefricanos tenha sido também uma forma de valorizar os docentes que atuam na militância e se dedicam a trabalhar as questões étnico-raciais. “Sabemos que essa temática costuma ser pouco reconhecida e exige muito esforço. Por isso, senti-me verdadeiramente premiada e valorizada pelo governo federal, o que tornou a experiência ainda mais significativa e inspiradora”, concluiu a docente, ao recordar sua participação no intercâmbio.

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